Moradores de assentamento em Igarassu denunciam poluição de córrego por chorume e lixo, inclusive hospitalar
Por: Pedro Galindo em 28/03/17
Plantações no entorno da Central de Tratamento de Resíduos - que é capaz de receber até mil toneladas de lixo por dia - podem estar sendo contaminadasFoto: Ed Machado
Em pleno século 21, a água ainda não é um bem de acesso universal - mesmo para quem tem um dos maiores mananciais de Pernambuco no quintal de casa. É o caso dos moradores do Assentamento Engenho Ubu. Estabelecidos às margens da BR-101, em Igarassu, há cerca de 20 anos, eles têm como vizinho o rio Jardim, manancial da adutora Arataca, que abastece grande parte da Região Metropolitana do Recife, como o próprio município, além de Abreu e Lima, Paulista, Olinda e parte da Zona Norte da Capital.
Apesar disso, ao longo da última década, as famílias que habitam o local têm assistido a uma drástica queda na qualidade da água. Mais precisamente desde a instalação da Central de Tratamento de Resíduos (CTR-PE), um aterro sanitário com capacidade para receber até mil toneladas de lixo por dia.
Segundo relatos obtidos no local pela reportagem da Folha de Pernambuco, as cerca de 400 famílias do assentamento têm sido bastante afetadas pelo volume de resíduos de lixo lançado no manancial. Provas do descaso com que o rio tem sido tratado são as imagens e vídeos disponibilizados por um morador do Engenho Ubu que não quis se identificar. Ele registrou chorume e materiais descartados - incluindo lixo hospitalar - escorrendo em direção às águas do córrego.
Representante jurídico dessas famílias, o advogado Carlos Mascena diz que os assentados lutaram muito para que o aterro não fosse implantado onde há um grande aquífero subterrâneo. “Não tem razão algo de tanto risco ser implementado ali. Na época que fizeram a sondagem, o local onde o risco era menor era em Itaquitinga, mas ficava inviável economicamente. Aí escolheram a BR-101 pela logística. É onde está o Aquífero Beberibe, que começa na Bahia e vai até Mossoró (RN)”, afirma. Hoje ele briga na Justiça por compensação financeira para as famílias assentadas. “Os poderes constituídos não nos levam a sério. Só vão levar quando acontecer o que aconteceu em Mariana”, dispara, em referência ao desastre ambiental ocorrido no fim de 2015 em Minas Gerais.
Questionado sobre a denúncia, um representante da CTR declarou que a empresa jamais descartou nada no Arataca e que todo o processo é fiscalizado pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). “A CTR nega veementemente que esteja acontecendo alguma coisa no rio Arataca”, complementou. Sobre essa afirmação, o advogado dos assentados foi enfático: “O rio Paratibe está morto, o rio Timbó está morto e quem fiscaliza é a CPRH. Hoje ela não passa credibilidade. A sociedade não pode dizer que o meio ambiente tem um fiscal dotado de infraestrutura, de imparcialidade”, avaliou.
A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) informou, por nota, que a situação exposta não está relacionada às atividades da empresa, e que acionará a CPRH para que seja efetuada uma fiscalização no local. A CPRH, por sua vez, afirmou que Igarassu é um dos 13 municípios do Estado que executam ações de licenciamento, fiscalização e monitoramento ambiental, e que manterá contato com a prefeitura para fazer vistorias na área. Já o município esclareceu que a Agência Municipal de Meio Ambiente não tem jurisdição sobre a CTR, sendo a responsabilidade da CPRH, mas que acompanhará uma eventual vistoria técnica no local.
Fonte: Folha de Pernambuco