Médico infectologista Demétrius Montenegro explica detalhes sobre o vírus (Foto: Peu Ricardo/DP)
Com a proximidade do carnaval, maior festa de rua de Pernambuco, muitos foliões estão se perguntando sobre os riscos de serem infectados pelo coronavírus no meio da multidão. O médico infectologista Demétrius Montenegro esclarece que, assim como todos os anos, as pessoas precisam se preocupar com a saúde de uma forma geral, tomando cuidado com o contágio por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e Aids, diarréias e qualquer tipo de gripe. “ A gente está vivendo um verão bem intenso. Então, a orientação é cuidar da saúde de uma maneira geral porque isso evita todas as doenças, as de transmissão de contato e aérea”, explicou.
De acordo com o especialista, o Ministério da Saúde também não fez nenhuma recomendação específica para o período de carnaval. “Até porque a Anvisa está fazendo bloqueio de portos e aeroportos para turistas e pessoas que estão vindo brincar carnaval na região.”
A dica é adquirir hábitos saudáveis desde já, assim como na época do H1N1. A orientação é lavar as mãos, evitar passar as mãos nos olhos, boca e nariz e andar sempre com álcool em gel. “Se a população já cria esse hábito, se acontecer uma epidemia na região, já haverá esse hábito saudável. Isso vai dificultar a circulação do vírus”, destacou o infectologista.
Montenegro explicou que o coronavírus já existe em animais e protagonizou outras epidemias. “A característica desse vírus atual é que ele sofreu uma mutação. Por isso é chamado de novo coronavírus. Vem se comportando de forma diferente. Essa transmissão entre humanos está se dando de maneira mais eficaz que as epidemias anteriores. No entanto, ainda é preciso estudar muito a relação desse vírus com o humano”, esclareceu.
Outro ponto importante destacado pelo infectologista é que, inicialmente, a letalidade registrada foi muito elevada, ou seja, a quantidade de óbitos diante do número de casos confirmados da doença. A boa notícia é que a curva está mudando. “O que se observa ao longo da epidemia é que essa letalidade vem diminuindo. Hoje essa letalidade fica um pouco maior que o influenza. Lógico que as pessoas precisam se precaver, mas não precisa o pânico generalizado. Até porque não tem caso suspeito em Pernambuco.”
A China, explicou Montenegro, também tem uma condição epidemiológica favorável neste momento. “A China é um dos países com maior população do mundo. Seus habitantes estão passando pelo inverno, que é uma estação que propicia a transmissão de vírus. Felizmente, estamos em um verão muito quente, as pessoas não ficam confinadas em casa, em escolas e creches, o que facilita essa transmissão.”
A qualquer sinal de tosse, falta de ar e febre, é preciso manter a calma e pensar sobre as possibilidades de contágio. Se a pessoa não esteve na China, não há porque se preocupar. “O contato com alguém que foi para a China também não oferta risco se essa pessoa não tiver sintomas”, esclareceu Montenegro.
Outra notícia que tranquiliza é que a grande maioria dos casos nos relatos epidemiológicos são considerados leves, disse Montenegro. “Tanto que essas pessoas são acompanhadas no isolamento domiciliar. Uma proporção menor de pessoas é que vai ter estado mais grave e, menor ainda, é a questão do óbito.”
Pessoas com sintomas suspeitos podem ir para qualquer unidade de saúde. No atendimento, a equipe médica atesta se realmente o caso é suspeito e encaminha para Hospital Universitário Oswaldo Cruz ou Correia Picanço, as duas referências para o assunto. É importante saber que ambos não funcionam com emergência ou demanda espontânea. Os pacientes precisam ser encaminhados. Nessas unidades, a equipe decide se faz o internamento ou se o isolamento domiciliar.
O infectologista destacou, ainda, que grupos considerados mais vulneráveis (pessoas com diabetes, cardiopatas ou com doenças pulmonares prévias) precisam ter os mesmos cuidados de sempre relacionados a doenças respiratórias e não somente para o coronavírus. “Quantas pessoas já morreram de gripe? A gente acha que porque colocou nome novo em quadro respiratório a tendência é a gente achar que essa doença vai matar mais. Não é isso. A gripe mata também. Agora, como a gripe já é uma coisa do nosso dia a dia, o H1N1 meio que banalizou, por exemplo. A gente perde o medo. Mas chega uma nova entidade, aumenta o medo.”
Produtos chineses - Diante do questionamento de algumas pessoas sobre os riscos de se contaminar com o coronavírus a partir do contato com produtos ou mesmo correspondências vindas da China, o infectologista afirmou que isso não faz o menor sentido. "Lógico que o vírus não vem no produto. O vírus vive muito pouco no ambiente externo. A gente vive no calor e esse produto, para vir da China para cá, passou por um período longo no ambiente externo. Não precisa ter medo de comprar produtos chineses", atestou.
Nos arredores do Mercado de São José, no bairro de mesmo nome, no Centro do Recife, os comerciantes chineses não falam sobre o assunto. Em uma das lojas, uma vendedora brasileira disse que o dono não gostou de ver a imagem dele em um vídeo falando sobre o coronavírus. "Eles já conversaram com os funcionários sobre isso. Falaram que não há risco de pegar a doença. Agora tem muita gente curiosa, de fora, que fica perguntando se não é perigoso trabalhar aqui. Tem quem diga para eu arrumar outro emprego. Explico que não tem nada a ver", falou Edva Gomes, que trabalha há um ano no comércio.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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