No Brasil, o Calendário Nacional de Vacinação contempla não só as crianças, mas também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. De acordo com o site do Ministério da Saúde, ao todo, são disponibilizadas 19 vacinas para mais de 20 doenças, cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos, podendo se estender por toda a vida. Os imunizantes são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão disponíveis, em sua maioria, de forma rotineira nos postos de saúde.
A cirurgiã-dentista Juliana Peixoto, 31 anos, e o jornalista Carlos Eduardo Mélo, 35, fazem questão de manter sempre atualizadas a caderneta de vacinas dos filhos Murilo, quatro meses, e Vinicius, 3 anos. "Sempre que tem campanhas, como a da gripe e do sarampo, participamos. Me sinto segura, pois as vacinas passam por todo um protocolo científico. Nunca duvidei da qualidade e eficácia que elas têm", afirma a mãe dos meninos.
Carlos Eduardo conta que na infância os pais sempre o levavam para vacinar. "Lembro que eles marcavam com meus tios e tias para levar meus primos juntos", comenta. Para o jornalista, a atitude dos pais influencia até hoje na confiança e relação que ele tem com os imunizantes. "Além disso, eu quase me formei em biologia e sempre levei esse lado da saúde a sério", afirma, acrescentando que nem mesmo a quarentena durante a pandemia impediu de vacinar os filhos.
De acordo com o pesquisador do departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, Rafael Dhália, vacinas são substâncias que são inoculadas em nosso organismo, geralmente por injeção ou via oral, com a capacidade de induzir nosso sistema imunológico a produzir uma resposta específica contra determinado micro-organismo patogênico. "Elas induzem uma resposta primária que é capaz de formar células de memória. Assim, ao entrar em contato com o micro-organismo contra o qual foi vacinado o organismo rapidamente impede a infecção".
Logo ao nascer, os meninos e meninas devem tomar a vacina BCG, que protege contra formas graves da tuberculose, e o imunizante contra a hepatite B. Aos 2, 3, 4, 5 e 6 meses de vida, as crianças também precisam ser levadas aos postos de saúde para serem protegidas contra poliomielite, rotavírus, meningite, pneumonia, tétano, coqueluche. Entre os 12 meses e os 4 anos são feitos alguns reforços vacinais, além da vacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba) aos 12 meses, com reforço aos 15 meses, e contra a hepatite A, aos 15 meses.
Entre os 9 e 14 anos, para as garotas, e entre os 11 e 14 anos, para os garotos, é feita a vacinação contra o HPV (vírus do papiloma humano), que previne contra cânceres de colo do útero e pênis. A imunização é feita em duas doses, com um intervalo de seis meses entre elas. Também entre os 11 e 12 anos, para ambos os sexos, deve ser feito uma dose da vacina meningocócica ACWY (conjugada).
Dos 10 aos 19 ainda pode ser feito o esquema contra a hepatite B, em 3 doses (a segunda é feita um mês após a primeira; a terceira deve ser aplicada seis meses após a primeira), caso não tenha sido feito na infância. Já a dT (difteria e tétano) são em três doses para não vacinados, além de um reforço a cada dez anos Adultos e idosos também precisam se proteger (veja o infográfico).
Alguns argumentos dos grupos antivacinas é que elas podem causar efeitos colaterais. No entanto, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Paulo Sergio Ramos de Araújo, explica que todos os imunizantes podem produzir eventos adversos, que via de regra são leves e não trazem qualquer tipo de dano a saúde a longo prazo. "Eventos adversos graves são raros e muitas vezes numa proporção maior que um caso para cada um milhão de vacinados", afirma.
Gestão tripartite
A superintendente de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), Ana Catarina de Melo, explica que o Programa Nacional de Imunização do Brasil (PNI) tem uma gestão tripartite na qual o Ministério da Saúde é responsável pela aquisição dos imunobiológicos, o Estado pelos insumos, como seringas, e o município tem o papel de vacinar. O Estado também coordena as campanhas e presta assessoria, treinamento e orientação aos municípios.
Para Ana Catarina o grande desafio é fazer a população compreender a importância da vacinação e que ela deve ser vista como uma ação de rotina. "É preciso deixar o cartão de vacinas atualizado para evitar a reintrodução de vírus. A população não deve esperar uma grande campanha ou mobilização, pois muitas vezes elas ocorrem porque a gente não consegue manter a cobertura vacinal adequada", comenta.
A superintendente de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis da SES-PE alerta ainda que a carteira de vacinação é um documento e devemos preservá-la da mesma forma que o RG e a CNH, por exemplo. No entanto, quem perdeu ou não tem uma não deve usar isto como desculpa para não buscar imunização. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) já é possível puxar em um sistema o histórico de alguns pacientes e atualizar a caderneta sem precisar vacinar novamente. Se isto não for possível é feito um novo cartão e ofertadas as vacinas novamente", diz.
Há alguns anos o PNI brasileiro é referência mundial. "Hoje o melhor programa público de vacinação é o nosso. Temos um escopo de oferta de vacinação que muitos países não têm de forma gratuita, mas precisamos no sentido de identificar outras alternativas de realizar a imunização. "Geralmente, as pessoas trabalham e estudam no mesmo horário que os postos estão abertos. Por isto, vacinação de adolescente e adulto dá certo quando vamos até onde eles estão, nas escolas, universidades ou locais de trabalho", afirma Ana Catarina.
Para a superintendente a sociedade deve compreender que não é só função do poder público a melhoria das coberturas vacinais. "É um conjunto de fatores. O serviço tem que funcionar adequadamente, mas a população precisa ter sua responsabilidade de procurar o atendimento. A partir do momento que mantemos altas coberturas vacinais garantimos a não circulação dos vírus e uma população mais saudável", ressalta.
Fake news
Uma pesquisa recentemente divulgada pelo PoderData aponta que em cerca de quatro meses caiu de 85% para 63% o percentual da população que “com certeza” tomaria uma vacina contra a Covid-19. O levantamento foi feito com 2,5 mil pessoas em 488 cidades, entre os dias 6 e 8 de julho e 26 e 28 de outubro deste ano. Para o pesquisador do departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, Rafael Dhália, o resultado pode ser um reflexo do poder das fake news.
"Com certeza essas informações desencontradas que são repassadas nas redes sociais aumentaram e muito as desconfianças e incertezas com relação a vacinação de Covid-19. Temos que tomar cuidado com isso porque em uma pandemia ninguém está seguro. É importante a gente checar a veracidade dos fatos antes de compartilhar", comenta. Para evitar cair em armadilhas é possível recorrer ao Canal Saúde sem Fake News do Ministério da Saúde. É só mandar uma mensagem pelo WhatsApp para o número 61 99289.4640.
Para o chefe do ServiÇo de Infectologia do HC-UFPE, Paulo Sergio Ramos de Araújo, a disseminação de dados falsos é extremamente preocupante. "Alguns especialistas em vacinas reportam que existem mais fake news sobre o tema vacinas, repercutindo de forma negativa, do que informações positivas. De forma que precisamos promover uma agenda positiva que possa conscientizar a opinião pública sobre a relevância do tema", argumenta.
Primeira vacina
A vacina antivariólica é a primeira que se tem registro no mundo. Ela foi descoberta na Inglaterra, no século 18, a partir da observação do médico inglês Edward Jenner, que desenvolveu a vacina a partir de outra doença, a cowpox (tipo de varíola que acometia as vacas). Ele percebeu que as pessoas que ordenhavam as vacas adquiriam imunidade à varíola humana. Assim, a palavra vacina, que em latim significa “de vaca”, passou a designar todo o inóculo que tem capacidade de produzir anticorpos.
"Vacinas são fundamentais para o controle das doenças transmissíveis. Várias doenças foram sendo controladas após sua descoberta. A obrigatoriedade pode ser uma questão política, mas também sanitária. Se você não vacina a população toda, uma pessoa doente pode provocar uma epidemia. A vacina não é uma questão individual, é coletiva. Quem se nega a se imunizar está negando seu papel social de se defender e defender o outro", fala a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Tânia Maria Fernandes.
Fonte: Folha de Pernambuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário