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quarta-feira, 24 de março de 2021

Dias após perder avó para a Covid-19, pernambucano é aprovado na Escola do Bolshoi

A jornada do pequeno Ângelo Nunes em busca do sonho de ser um bailarino profissional está apenas no começo, mas já repleta de emoções. Neste ano, ele foi selecionado na primeira etapa para disputar uma vaga na Escola do Teatro Bolshoi. No último sábado (20), o menino de 10 anos recebeu a notícia de que foi aprovado na única filial do teatro de Moscou no Brasil, localizada em Joinville, Santa Catarina. Entretanto, entre a primeira fase e a final, Ângelo perdeu a avó, que tanto o apoiava, para a Covid-19.

Matriculado no balé desde os 6 anos, Ângelo contava com o apoio da família para sua primeira seleção. Sua avó, Lucicleide Batista Nunes, não só o incentivava, prometia também que iriam viajar o mundo juntos para os espetáculos que o bailarino faria. Infelizmente, Lucicleide não viveu tempo suficiente para acompanhar mais uma etapa de realizações do neto. Ela faleceu no final de semana anterior à audição de Ângelo, vítima de complicações causadas pelo novo coronavírus. 

A mãe do bailarino, Clara, tentou evitar que a notícia pudesse abalar o pequeno e esperou para contar. Entretanto, Ângelo viu uma publicação de um familiar nas redes sociais sobre o falecimento da avó, e todo o plano foi por água abaixo. Ainda assim, o menino se manteve firme: prometeu que conquistaria a vaga em memória da avó.

Inicialmente, Ângelo recebeu a notícia de que nem ele, nem suas amigas bailarinas Alice Leão e Heloá Cavalcante haviam sido aprovados. O plano da professora de balé deles, Sandra Pernambuco, era avaliar se eles estavam mesmo determinados a seguir o sonho de serem bailarinos. O menino reagiu com perseverança: “Não tem problema, eu vou tentar uma, duas, três, quatro, cinco vezes porque é meu sonho. E eu vou conseguir entrar na Escola Bolshoi.”

Depois, Sandra contou que ele havia sido aprovado. Suas amigas e colegas de classe não foram selecionadas para as vagas, mas ficaram felizes por Ângelo. Alice e Heloá estão determinadas a tentar novamente a seleção. 

Ângelo chorou de alegria ao receber a notícia sobre a aprovação. “Eu fiquei super animado”, relatou. O bailarino também conta sobre suas expectativas para a nova fase: “Vai ser diferente. Não vou conhecer ninguém, mas vou fazer o que eu gosto. Meu sonho, que é ser bailarino do Bolshoi”. Ele que mora no Recife, assegura ainda que, apesar de estar diante de uma mudança grande, está calmo e que vai se acostumar com os novos ares. O bailarino é o único pernambucano aprovado na última seleção da instituição.

As aulas na Escola do Teatro Bolshoi terão início no dia 19 de abril. Então, para que Ângelo não perca nada, sua família terá que se mudar em menos de um mês para Joinville. Neste primeiro momento, sua mãe, Clara, e sua irmã, Maria Clarice, irão acompanhá-lo. Já seu pai, Herschel, só poderá ir para Santa Catarina se surgir uma vaga de emprego na região.

O bailarino afirma que pretende seguir carreira na área: "Quero continuar fazendo balé, ser um professor de balé. Conhecer o mundo lá fora, ir pra Rússia, ir pra vários lugares que envolvam balé".

Seleção

Devido à pandemia do novo coronavírus, o processo seletivo do Bolshoi foi dividido em duas etapas. A primeira consistia no envio de um vídeo do bailarino dançando. Já a segunda aconteceu de forma presencial, nos dias 18 e 19 de março.

Aulas

As aulas de balé também precisaram ser adaptadas para evitar o contágio. Inicialmente, as aulas de Ângelo aconteceram no formato online. Depois, passaram a ser presenciais, adotando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscara. 

Sandra Pernambuco, professora e diretora do espaço onde o pequeno teve aulas de balé, dá aulas na área há 27 anos. Ela acompanha de perto a dedicação dos alunos. “Não é fácil para uma criança ter privações em relação a algumas coisas naturais da idade, mas o sonho é maior”, relata. 

“Deixar de brincar, deixar de ir para alguns lugares, deixar de comer o que gosta”, exemplifica. “Ângelo teve que passar por uma nutricionista, fazer dieta. Muito do que ele gostava, teve que abrir mão. Em vez de passar as tardes brincando ou assistindo televisão, ele ia para o balé. Sempre foi um menino que sabia o que queria, e por isso focou tanto nos seus objetivos”.  

As aulas do espaço não se restringem à preparação para o Bolshoi. Os alunos que têm aulas preparatórias também praticam com os demais nas turmas tradicionais. 

Fonte: Folha de Pernambuco

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