Foto: João Victor Paiva/Diario de Pernambuco
Professores, estudantes, juristas e ativistas participaram da leitura da Carta às Brasileiras e Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, nesta quinta-feira (11), na Faculdade de Direito do Recife (FDR). Permeado por recordações do período ditatorial (1964-1985), quando direitos políticos foram suprimidos, o ato também contou com a presença de parlamentares e defendeu a integridade do sistema eleitoral.
O protesto faz parte de uma série de atos realizados em várias cidades do país contra as ameaças e os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) às instituições e às urnas eletrônicas.
A escadaria da faculdade começou a ser ocupada por volta das 10h, mas a carta só foi lida após a chegada de uma passeata que desceu a Rua do Príncipe em direção ao campus. Lido em formato de jogral, o documento lembrou os anos 1970, quando o professor da USP Goffredo da Silva Telles Junior apresentou a Carta aos Brasileiros, denunciando o estado de exceção vivido após o golpe de 1964 e conclamando o restabelecimento do estado de direito.
A advogada Vera Baroni foi a primeira a ler a carta. Presa durante o regime militar, ela apontou a importância da luta antirracista para a consolidação da democracia no país. Ao todo, 15 pessoas se revezeram na leitura do texto, que, apesar de não citar Bolsonaro diretamente, menciona os seus "ataques infundados e desacompanhados de provas [que] questionam a lisura do processo eleitoral". "São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional", diz um trecho.
Estudante da UFPE durante a ditadura militar, o senador Humberto Costa (PT) acompanhou a leitura do manifesto. "Eu tive a oportunidade de participar, em 1977, de toda aquela mobilização e ver, hoje, que o Brasil passa pelas mesmas ameaças daquilo que nós vivemos durante a ditadura... É importante a gente ver a resistência, a resposta das pessoas e o movimento contrário às ameaças que Bolsonaro faz à liberdade e à democracia no país", comentou.
Ex-aluno da FDR, o deputado federal Tadeu Alencar (PSB) retornou à faculdade nesta quinta. "É incrível que, no ano de 2022, nós tenhamos que voltar às ruas em defesa daquilo que fizemos na redemocratização, a luta pelas eleições diretas para que a gente pudesse ter o Brasil respirando ares de liberdade que foram retirados da sociedade brasileira no período da ditadura militar."
O deputado estadual e ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), também lembrou da sua experiência particular durante a ditadura. "Acho que, talvez, o maior sentimento que eu possa falar é o de quem viveu e lutou no período da ditadura militar. Seja na repressão, seja na liberdade de falar, na liberdade de se reunir, na liberdade de se encontrar, na impossibilidade de fazer críticas, de criticar a corrupção, o desgoverno, a fome, a miséria, a tortura. Ao meu ver, esse é um momento significativo para o Brasil e eu diria até para a humanidade."
Presente no ato, a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) classificiou o protesto como "um momento icônico" e "uma reação importante" aos arroubos autoritários do presidente. "Eu penso que as ameaças [à democracia] são evidentes. Sistematicamente, Bolsonaro tem ameaçado as instituições e ainda mais quando há um momento de alternância na história, por conta das eleições, é que ele recrudesce esses ataques, inclusive a um dos sistemas mais avançados do mundo que é a urna eletrônica", afirmou.
Contando com o apoio da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife e de entidades sindicais de servidores da UPE, o ato foi encerrado por volta das 12h com a execução do hino nacional.
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