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domingo, 3 de setembro de 2023

Alunos com TDAH: os conflitos e o papel da escola diante do diagnóstico


Adriano, de 8 anos, foi diagnosticado com o transtorno e já passou por cenários delicados na escola em que estuda (Foto: Sandy James/DP)

 Dificuldade em concentrar-se nas atividades, aversão a enxugar o corpo depois do banho e atrapalho na hora de amarrar o cadarço do tênis. Esta é a rotina de Adriano Santoro, de 11 anos, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no ano passado. Este transtorno faz com que ele encontre dificuldade em realizar algumas atividades do dia a dia.


Na escola, Adriano nem sempre é bem visto pelos colegas e funcionários, que insistem em tratá-lo como uma criança neurotípica (que não apresenta alterações neurológicas ou do neurodesenvolvimento) e aplicar as mesmas exigências e punições impostas aos outros alunos. 


Colocado sozinho em uma sala como punição, Adriano entrou em crise por sentir-se isolado e passou mal. Diante desta situação, a musicista e mãe de Adriano, Cecília Santoro, levou o filho para um profissional e soube do diagnóstico. Depois disso, a escola foi informada sobre a condição de Adriano, mas não prestou o suporte necessário e foi omissa diversas vezes, segundo Cecília.


Uma das situações mais marcantes para a família aconteceu na semana passada, quando Adriano chegou atrasado no colégio, por ter dificuldades em cumprir horários, e não foi autorizado a assistir a aula. Cecília relata que tentou conversar com o diretor, mas foi recebida com ironia e não foi levada a sério. Após o episódio, a escola não deixou claro se irá autorizar a entrada de Adriano após o horário padrão. A mãe do estudante acredita que o colégio foi negligente e não disponibiliza os recursos necessários para dar aula a uma criança com TDAH.


TDAH além da infância


Casos como o de Adriano não são raros, mas o TDAH não se restringe apenas à infância e acompanha o indivíduo em todas as fases da vida. A psicóloga clínica infanto-juvenil Thaís Carolina também tem uma filha diagnosticada com o transtorno. Ana Fialho, de 17 anos, está no 3º ano do Ensino Médio, e já apresentava alguns sinais do TDAH quando estava no Ensino Fundamental. Com dificuldades na leitura, inquietação na sala de aula, ansiedade e pouca concentração, Ana desenvolveu uma baixa autoestima e se cobra para tentar alcançar os colegas de classe.


A mãe da estudante percebeu os sintomas que a filha apresentava desde pequena. “A escola da minha filha não nos trouxe a possibilidade de diagnóstico. Nem sempre as escolas estão aptas ou atentas a sinais como desatenção e impulsividade. Mas como trabalho com essa demanda, fui percebendo ao longo dos anos”, explicou.


Thaís afirma que as medidas tomadas pela escola são paliativas, mas não deixam de ser importantes para o desempenho da filha. Entre as determinações adotadas pela instituição de ensino estão o estabelecimento de um maior tempo de prova e prioridade para sentar na cadeira da frente. Além disso, Ana faz o uso de medicação prescrita por um neurologista e uma neuropsicóloga nos períodos de prova para aumentar a concentração. 


A neuropsicóloga Kátia Guerra explica que as medicações auxiliam as pessoas com o transtorno.  “Relatos clínicos apontam que alguns medicamentos podem ajudar a melhorar a atenção e impulsividade para muitos pacientes, mas devem ser medicados com um diagnóstico preciso, pois podem ocorrer muitos efeitos colaterais mesmo com diagnósticos precisos trazendo sintomas como insônia, perda de apetite, aumento da pressão arterial ou até ansiedade”.


A relação entre os alunos e profissionais da educação pode ficar conflituosa caso a criança ou adolescente não tenha recebido o diagnóstico de TDAH. Por este motivo, os profissionais podem acreditar que o aluno é desobediente, desatento ou impulsivo sem motivos. Mas quando o colégio está ciente da condição do aluno, ele deverá ofertar os recursos necessários para garantir o aprendizado de qualidade.


Entre os principais comportamentos de estudantes com TDAH estão:

Incapacidade para realizar tarefas demoradas

Conversar enquanto todos estão quietos

Impaciência para esperar

Distração constante

Perda e esquecimento do material escolar

Dificuldade em organizar os materiais

Movimentos físicos em excesso


Em novembro de 2021 foi aprovada a Lei n°14.254, que garante ao estudante com TDAH (e outros transtornos da aprendizagem), o acesso a acompanhamento integral, bem como a adaptação de alguns recursos de acordo com suas peculiaridades. A neuropsicopedagoga Adriana Milanez ressalta que “promover a inclusão de crianças já diagnosticadas com o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade exige da escola muito conhecimento e comprometimento”.


A profissional afirma que é fundamental que a família cultive uma boa relação com a escola em prol do bem estar da criança. “É importante que a escola disponha de condições reais para assegurar que o estudante tenha acesso ao que é seu por direito. Fazer a matrícula não é sinônimo de inclusão, logo, se faz necessário que os professores tenham formação acadêmica e outros cursos de capacitação e treinamento, ainda assim, apenas isso não é suficiente, os professores precisam de apoio dentro e fora da sala”, ressalta.


Além disso, a escola pode oferecer acompanhamento individualizado em sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o Plano de Ensino Individual (PEI). Este último deve ser adequado às necessidades da criança ou do jovem em questão.


É importante que os professores estejam atentos aos sinais dos alunos com TDAH e os acolham durante momentos de crise. A psicopedagoga Midiã Gonçalves informa que “em meio a uma crise, o professor precisa manter a calma, estimular a respiração da criança e mantê-la em segurança”.


Professores capacitados fazem a diferença


Os alunos diagnosticados com TDAH passam boa parte do dia na companhia de professores. Por este motivo, o olhar direcionado e a capacitação para lidar com estes estudantes são importantes para garantir o desenvolvimento escolar. O professor deve estar ciente do diagnóstico e não classificar os sinais do transtorno como mau comportamento ou preguiça.


A professora da Educação Infantil Josiane Tenório conta alguns dos métodos que utiliza na sala de aula. “A maneira de lidar com o aluno com TDAH varia de acordo com a necessidade de cada criança,  mas geralmente procuro atuar resumindo os conteúdos, busco atividades onde o aluno possa executar e se movimentar, para não ficar muito tempo parado”.


A profissional de educação ressalta que o método de ensino construtivista é aliado no aprendizado dos alunos com TDAH. Nesta metodologia, o estudante é estimulado por meio de atividades em que pode expor a sua opinião, impulsionando assim o seu senso crítico. Outra atitude que o professor pode tomar dentro da sala de aula é ressaltar as qualidades do aluno e minimizar o foco nas falhas dele.


Josiane Tenório ainda explica que o professor não deve conscientizar o estudante com TDAH de suas dificuldades. “Todo ser humano tem suas limitações, porém cada um de uma forma, de um jeito. A parceria e o conhecimento sobre o assunto é essencial para obter sucesso no desenvolvimento não só das crianças com TDAH, mas para com o todo”, conclui.


Fonte: Diário de Pernambuco

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