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sábado, 4 de abril de 2020

Em tempos de coronavírus, máscaras de pano viram alternativa de renda para trabalhadores informais


A pandemia do novo coronavírus (covid-19) levou ao aumento da procura por máscaras nas farmácias de todo o país, o que deixou as prateleiras desses estabelecimentos sem os produtos. Esse desabastecimento também se reflete nos hospitais do Brasil. Por isso, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mudou as orientações em relação ao uso do acessório. Antes, a pasta recomendava apenas o uso das cirúrgicas, mas, por causa da alta demanda, outros tipos passaram a ser indicados, como as máscaras de tecido feitas em casa.

Mandetta defende o uso do material ou de qualquer barreira de pano, como lenços, para evitar o contágio nas ruas e transporte público. Para o ministro, a facilidade em produzir as máscaras caseiras é uma aliada na tentativa de conter a covid-19. "Qualquer pessoa pode fazer sua máscara de pano e utilizar, que vai estar ajudando o sistema de saúde", garantiu o ministro em entrevista coletiva na quarta-feira (1º), ressaltando que o baixo custo para a confecção dos acessórios. De acordo com o Ministério da Saúde, para ser eficiente como uma barreira física e impedir a propagação do novo coronavírus, a máscara caseira precisa ter pelo menos duas camadas de pano, ou seja dupla face. Além disso, a pasta destaca que o equipamento de proteção é individual e não pode ser compartilhado.

Diante do cenário de escassez do produto nas lojas e farmácias, muitas pessoas passaram a produzir as máscaras para vendas e doações para atender a demanda. Sem encomendas de roupas por causa do período de isolamento social, a costureira Selma Barbosa, 53 anos, encontrou na fabricação caseira dos acessórios de proteção uma alternativa para garantir renda e, também, ajudar as pessoas que não têm condições de comprar a versão tradicional do produto. “Eu nunca havia trabalhado com isso, mas como estava parada há quase 12 dias, me arrisquei”, afirma ela, contando que já recebeu várias encomendas e pedidos de doação. A profissional, moradora de Santo Aleixo, em Jaboatão dos Guararapes, produz máscaras personalizadas, com estampas de animais, vegetação e outros desenhos. Ela vende os materiais que produz por um preço médio de R$ 10, o que pode ser reduzido de acordo com a quantidade de máscaras solicitadas.

Assim como Selma, a costureira Dulce Dias, 67, usa uma máquina de costura instalada em um dos cômodos da casa onde mora, no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, para se dedicar se à produção das máscaras de tecido há cerca de 15 dias. "Sento na cadeira às 8h e só saio por volta de 1h, em alguns dias”, conta ela, afirmando estar com o coração tranquilo por doar pelo menos 100 máscaras. Segundo Dulce, que também vende o item de proteção por R$ 5, a ideia de fazer o produto em casa surgiu após se deparar com o alto valor pelo qual as máscaras estão sendo vendidas nas farmácias de seu bairro.

Sem pretensão, o autônomo Inácio Paiva, 55, acabou iniciando um negócio de produção e venda de máscaras durante a pandemia do novo coronavírus. No intuito de ajudar familiares a se proteger da doença, Paiva contratou uma costureira para confeccionar os acessórios, mas uma foto em uma rede social chamou a atenção de outras pessoas que se mostraram interessadas no produto. “A falta de máscaras nas farmácias e mercados me motivou a fazê-las para nossa casa, mas as pessoas foram vendo um foto que minha esposa postou e começaram a pedir”, diz Inácio, que começou a produção na quinta-feira (3) e já recebeu encomendas para mais de 40 máscaras. O equipamento de proteção é vendido ao preço único de R$ 10.

Em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, empresários se uniram e já doaram mais de 10 mil máscaras produzidas na região. De acordo com o coordenador da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), um modelo foi desenvolvido na cidade e produzido em larga escala por pequenas empresas do município. Inicialmente, o item de proteção seria apenas doado para profissionais de saúde e policiais, mas com com a nova orientação do Ministério da Saúde, a produção deve ser expandida e também destinada à venda. “Lançamos um concurso de design para máscaras, cujo resultado sai na terça-feira, com isso, esperamos movimentar a cidade”, conta Bezerra, afirmando que a CDL tem recebido ligações de grandes distribuidores do país com encomendas.

Ainda de acordo com ele, dado ao perfil das empresas de Santa Cruz do Capibaribe, que são de pequeno porte, será necessária uma adaptação e ajuda de produtores familiares. “Aqui, toda residência é um misto de casa com fábrica têxtil, e vamos precisar do auxílio dessas pessoas”, diz ele, para quem esse movimento serve para atrair o apoio de todos que, durante a quarentena, estão parados e precisam fazer uma renda extra.

Apesar da recomendação do ministro Luiz Henrique Mandetta e da confecção do material por pequenos produtores, especialistas alertam que é preciso utilizar a máscara de pano de forma correta para evitar contaminação, principalmente porque ainda não há estudos sólidos sobre sua eficácia. Segundo o farmacêutico clínico em Infectologia e professor do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ), Claudinei Santana, a máscara é mais útil para quem está infectado e não quer contaminar outras pessoas. “Para aqueles que querem se proteger, a máscara deve ser trocada três vezes ao dia, já que a umidade da respiração faz com que a proteção seja diminuída”, explica ela, frisando que, desta forma, se toda a população quiser usar as máscaras, iremos precisar de pelo menos 600 milhões itens de proteção.

Já o infectologista Filipe Prohaska explica que as máscaras de pano precisam obedecer algumas especificações no tipo de tecido, que, segundo ele, deve ser 100% algodão, e no design do produto. "Ela tem que ter uma diagramação que cubra nariz e boca, além de estar moldada com três dobras, que funcionam como filtro de ar", afirma Prohaska, apontando a necessidade de trocar a máscara caseira após duas horas de uso para evitar que ela se torne vetor do vírus. "Após a troca, é necessário lavá-la com água sanitária."

Mesmo sem dados que comprovem a eficácia do uso da máscara como medida protetiva à covid-19, o tema gera controvérsias entre os profissionais da saúde. Para o professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Celso Granato, o arcabouço teórico mudou. No começou, a avaliação que se tinha era de que a proteção proporcionada pela máscara para quem não estava doente era discreta e, pela escassez do produto, era mais importante indicar o uso aos profissionais de saúde.

No entanto, o especialista observa que em função de esse ser um vírus mais transmissível do que se imaginava no começo, é possível que o contágio não ocorra apenas por gotículas, mas também por partículas que ficariam "boiando" no ar por uns 20 minutos. Por isso, diz Granato, a máscara poderia ter algum benefício. "Ainda que não seja uma proteção maravilhosa, se a máscara proteger 30%, será melhor do que nada", diz Granato, que concorda com a mudança de recomendação do Ministério da Saúde. Mas ele ressalta, no entanto, que é preciso ensinar as pessoas a usarem a máscara.

Saiba como fazer uma máscara de pano para se proteger do coronavírus
O Ministério da Saúde divulgou, na quinta-feira (2), um manual indicando como fazer máscaras caseiras, de pano, para proteção contra o novo coronavírus. Para ser eficiente, a máscara caseira precisa seguir algumas especificações: "É preciso que a peça tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja dupla face. E mais uma informação importante: ela é individual. Não pode ser dividida com ninguém. As máscaras caseiras podem ser feitas em tecido de algodão, tricoline, TNT ou outros tecidos, desde que desenhadas e higienizadas corretamente. O importante é que a máscara seja feita nas medidas corretas cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais", diz trecho de nota do Ministério da Saúde. 

Modelo 1, usando uma camiseta:



REPRODUÇÃO/MINISTÉRIO DA SAÚDE/MASK4ALL
Existem diferentes formas para confeccionar as máscaras caseiras 

1.Corte a camiseta e espessura dupla usando como base as marcações indicadas na figura;
2.Faça um ponto de segurança na parte inferior (para segurar ambas as toalha); 
3.Insira um papel entre as camadas; 
4.Amarre a alça superior ao redor do pescoço, passando por cima das orelhas;
5.Amarre a alça inferior na direção do topo da cabeça.
6.Modelo 2, usando costura e elástico:

Separe o tecido que tenha disponível (tecido de algodão, tricoline, TNT, outros têxteis), se possível, dê preferência ao tricoline;
Faça um molde em papel de forma no qual o tamanho da máscara permita cobrira boca e nariz, 21 cm altura e 34 cm largura;
Faça a máscara usando duplo tecido;
Prenda e costure na extremidade da máscara um elástico, ou amarras.


Os cuidados que você deve tomar com a máscara caseira

- O uso da máscara caseira é individual, não devendo ser compartilhada entre familiares, amigos e outros;
- Coloque a máscara com cuidado para cobrir a boca e nariz e amarre com segurança para minimizar os espaços entre o rosto e a máscara;
- Enquanto estiver utilizando a máscara, evite tocá-la na rua, não fique ajustando a máscara na rua;
- Ao chegar em casa, lave as mãos com água e sabão, secando-as bem, antes de retirar a máscara;
- Remova a máscara pegando pelo laço ou nó da parte traseira, evitando de tocar na parte da frente;
- Faça a imersão da máscara em recipiente com água potável e água sanitária (2,0 a 2,5%) por 30 minutos. A proporção de diluição a ser utilizada é de 1 parte de água sanitária para 50 partes de água (Por exemplo: 10 ml de água sanitária para 500ml de água potável);
- Após o tempo de imersão, realizar o enxágue em água corrente e lavar com água e sabão;
- Após lavar a máscara, a pessoa deve higienizar as mãos com água e sabão;
- A máscara deve estar seca para sua reutilização;
- Após secagem da máscara utilize o com ferro quente e acondicionar em saco plástico;
- Trocar a máscara sempre que apresentar sujidades ou umidade;
- Descartar a máscara sempre que apresentar sinais de deterioração ou funcionalidade comprometida;
- Ao sinais de desgaste da máscara deve ser inutilizada e nova máscara deve ser feita.

Fonte: Jornal do Comercio.

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